texto curatorial da exposição : Memórias Guardadas

série Anuch Luritza Sala Manuel Pastana PA (2)

Ana Luiza Kalaydjian

A realidade existencial do que se apresenta nos quadros da Ana tem um aspecto muito importante para sua identidade. Ela deve ser apreciada, não na superficialidade do retângulo, e sim na sua profundidade.

É na profundidade que percebemos seus índices, seu processo de busca. Os trabalhos aqui expostos, representadas por figuras humanas, sem cor, sem brilho, buscando uma memória perdida, quase melancólicos, estão representados nas imagens escultóricas no chão, como corpos buscando o seu escopo.

A iconografia do sofrimento tem uma longa linhagem na história da arte. Ana fez do sofrimento sua busca, seu exemplo, seu tormento, num autêntico paradoxo. Se olharmos atentamente, ela evoca marcas do tempo, da busca incessante de sua identidade, talvez perdida no passado de seus entes queridos, mortos na diáspora.

O carvão e o café (cores frias pelas tintas) são ícones emocionais. O carvão, cor preta, combustível; o café, cor marrom, que, na armênia, representa a leitura da borra de café, isto é, ancestralidade e energia. Ambas as cores, apesar de frias, pesadas, representam ascensão, espiritualidade. É nesse ambiente melancólico que Ana encontra a luz e a vida, que foram tirados de seus ancestrais pela matança indiscriminada e cruel, com absoluto desprezo pela dignidade humana, pela dignidade de um povo, de uma cultura.

Loly Demercian

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