¿Vamos a la playa?

A Terra é hoje um paciente em observação: suas artérias estão entupidas pela poluição, o equilíbrio de seu sangue foi afetado pelas mudanças climáticas. O acúmulo de CO2 (dióxido decarbono) na atmosfera, aumentado pela nossa avidez por consumo, é mais um dos inúmeros maus-tratos a que submetemos a quemchamamos ironicamente de “Mãe” Natureza. Impactando diretamente   o oceano, o CO2 aumenta a acidez da água e, dessa forma, ameaça a existência de corais, conchas e de todo e qualquer outro animal que tenha um esqueleto de carbono de cálcio. (Helton Escobar/ Jornal O Estado de São Paulo).

Quase ninguém vê o que acontece debaixo d’água. Visto da praia, o mar o parece uma grande poça d’água, de certo modo, estática. Mas, na realidade o oceano é tão dinâmico, diverso e rico em vida quanto uma grande floresta… E também equivalente a uma grande floresta é a destruição dos mares e dos oceanos que a espécie humana está promovendo. Os impactos da ação humana são imensos: segundo a oceanógrafa Sylvia Earle, cerca da metade dos recifes de coral da Terra já desapareceu. Ainda, aproximadamente 90% dos grandes peixes marinhos, animais esplendorosos como o atum-azul, o espadarte e várias espécies de tubarões, já foram extirpados do oceano pela pesca predatória. Na 32º Bienal de São Paulo, Incerteza Viva, realizada em 2016, o curador Jochen Voltz já denunciava os modos pelos quais entendemos o mundo hoje: a degradação ambiental e o aquecimento global.

A pesquisa foi realizada a partir do pensamento cosmológico, a inteligência ambiental, coletiva e a ecologia sistêmica e natural.

Paulo em seu discurso político, ativista e com inconformismo, buscou retratar através do dispositivo fotográfico a dissonância a qual nos encontramos. A arte se vale da incapacidade dos meios existentes para descrever o sistema de que somos parte. Essa estratégia estética é capaz de promover uma ação política pela ligação que se constrói com a subjetividade de cada indivíduo, possibilitando adesão a um coletivo que atua em determinado contexto social.

A exposição na Casagaleria e Oficina de Arte mostra que o artista assume a fotografia como meio de expressão, resultando numa complexidade de entendimentos, pois em determinado momento as fotos caracterizam uma denúncia e, por outro lado, por sua esmerada produção estética ressaltam o belo. São imagens que trazem como referência a arte conceitual e ativista, como também estruturas de pesquisa ambiental e ecológica.

É necessário considerar que a trajetória do artista – a prática figurativa – sempre esteve presente em suas pinturas. Com o amadurecimento de sua pesquisa e experiências cotidianas, o seu raciocínio pictórico descortinou novas soluções, como a fotografia, para registraros rastros do tempo.

Olhando de longe as imagensfotográficas parece até que os objetos foram postos delicadamente na areia para serem fotografados, mas o próprio mar tentou levá-los ou expulsar da praia a sujeira que o ser humano deixou. Os rastros, no entanto, são impossíveis de apagar – Rastros da ignorância humana.

Roseli Demercian/2018

Patricia Campana/2018