Exposição Paisagens Ásperas

PAISAGENS ÁSPERAS, 2024

Vitor Mazon¹

Em suas tradições familiares, Vitor Mazon descobriu uma atmosfera propícia para criação, uma percepção diferenciada em relação a marcenaria, fruto do ofício familiar. Era normal esbarrar com sobras de materiais como madeira, pregos, parafusos, lixas de todas as cores e espessuras. Entretanto, Vitor iniciou seu trabalho artístico com o dispositivo fotográfico. Seu olhar o direcionava para os vazios entre a presença das árvores e mata. As imagens, ao serem reveladas, fizeram-no sentir que algo faltara. Era aquele ambiente conhecido da marcenaria: o cheiro de madeira, o tato, a tridimensionalidade. Era preciso inserir toda essa lembrança de alguma forma. Vitor, então, compôs à fotografia, colagens, que evocaram a profundidade – com restos de madeira – e a moldura feita com suas próprias mãos. Suas primeiras paisagens, se originaram da lixa, um instrumento comum, mas com enorme capacidade de mutação, quando aliada a uma mente criativa, capaz de perceber as tensões advindas de sobreposições do material.
Em suas exposições, Vítor procura situar a multiplicidade da linguagem artística projetada naqueles materiais e suportes. São várias técnicas executadas com fluidez. Passa-se de uma para a outra sem detrimento da qualidade e sem que a técnica sobrepuja a linguagem e vice-versa. Mas, Vitor, não satisfeito, inicia pesquisa subjacente a todo pensamento expressado nas diversas séries, trazendo um fato raro na arte hodierna, na qual as formas prontas são apropriadas sem que haja indagação alguma quanto ao procedimento. A surpresa nessa descoberta logo é desvelada, uma vez que o artista realizou inúmeras pesquisas sobre as tensões lineares percebidas nas sobreposições de lixas que compõem cores e formas. Com as marcas de dedos, como se fosse a memória desenhando veios nas madeiras ásperas e lixadas, a linguagem de Vítor se articula. A partir daí, o artista cria paisagens com uma “atmosfera” que não se refere ao insólito, nem à junção ao acaso de elementos díspares, mas àquilo que resulta da reflexão e da experiência criadora de leis da causalidade.
Buscando domínio e boa execução técnica, Vítor deixa seu rigor na unidade e na identidade construída.

Loly Demercian²

¹Vitor Mazon, 1987, vive e trabalha em São Paulo – SP. Sua pesquisa parte da fotografia de paisagem, buscando uma relação entre imagem e matéria. Filho e neto de marceneiros, se formou em jornalismo (2010), com especialização em fotojornalismo pela Spéos Paris – École de Photographie, Paris (2012).
Em 2022 fez sua primeira exposição individual, Sarrafo, na galeria Zipper, com curadoria de Eder Chiodetto. Entre as exposições coletivas de que participou estão: Poéticas Possíveis, Paralela Eixo (2021), Voices of Earth, Art from the Heart (2021), Mostra Museu, Arte na Quarentena (2021).

²Especialista em Estudos de Museus de Arte pelo programa Inter unidades do Museu de Arte Contemporânea do estado de são Paulo, da Universidade de São Paulo (MAC/USP); mestre em Educação, arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; curadora de arte e membro do grupo de pesquisa em Comunicação e Criação nas mídias (CCM) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Catálogo Milton Blaser

https://lolydemercian.com.br/wp-content/uploads/2024/01/um-outro-paisagismo-milton-blaser-2.pdf

Conversa com os artistas Claudio Barros + Felipe Zorlini